Tuca Vieira

Dia 19 de Novembro, foi a abertura da exposição “V. SE ENCONTRA NA POSIÇÃO DA SETA”, na Galeria Mario Schemberg, em São Paulo. Esta exposição é na verdade um prêmio oferecido pela FUNARTE para Tuca Vieira. A exposição mostra um projeto de Tuca sobre o Edifício COPAM. A imagem abaixo é na verdade uma colagem de 105 fotografias, cada fotografia mostra um pequeno detalhe desse microcosmo que é o edifício. A exposição vai até o dia 16 de Dezembro.

crop_1224 - COPAM

Segundo informações constantes na página “Bio” do seu site, Tuca Vieira é: “Fotógrafo independente. Desenvolve projetos envolvendo cidade, paisagem urbana, arquitetura e urbanismo.” Tuca é brasileiro, formou-se em Letras pela USP em 1998 e é fotógrafo profissional desde 1991, trabalhou no MIS-SP, SESC-SP, Agência N-Imagens e para o jornal Folha de São Paulo e 2002 à 2009. Atualmente é fotógrafo independente e desenvolve projetos relacionados a arquitetura e exploração urbana. Ganhador de vários prêmios, entre eles: Prêmio Folha de Jornalismo – Fotografia (2004); Prêmio Grupo Nordeste de Fotografia (2005); Prêmio Concurso de Apoio a Produção de Artes Visuais – Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo (2006) e Prêmio Porto Seguro de Fotografia (2010).

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Conheci o trabalho do Tuca através de um entrevista que ele deu para revista Digital Photographer Brasil (Ed. 30), na época de lançamento do seu trabalho “Berlim”. Este trabalho, que retrata a cidade de Berlim em fotografias noturnas, foi o que me chamou a atenção. Exploração urbana, fotografia noturna e a cidade de Berlim, três coisas que me interessam muito. Sendo o trabalho de grande qualidade então, não tem como não ficar fascinado. Segundo informações retiradas da entrevista, Tuca teve seu trabalho reconhecido pela forma como registrava a cidade de São Paulo, em suas próprias palavras: “Eu abracei uma causa. Abracei a causa de São Paulo. Peguei um tema e fui muito a fundo. O máximo que eu pude. Fazia fotos e as pessoas me perguntavam onde eu havia conseguido aquela imagem. Eu respondia: ‘No centro’. Acho eu vi uma cidade que muitos não estavam acostumados a ver”. Ivan Padovani, o entrevistador, comenta que foi possivelmente este olhar que deu ao seu trabalho a qualidade necessária para fazer parte do acervo Pirelli-MASP.

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Após sair do jornal, Tuca fez trabalhos editoriais e fotografia de arquitetura e, em paralelo, vários trabalhos autorais que serviram para aprimorar sua linguagem estética. Acredito ter sido nessa época que Tuca produziu as séries “Oscar Niemayer”, e “Fotografia de Rua”. Oscar Niemayer é um patrimônio brasileiro e a genialidade de suas construções são sempre ótimos assuntos de fotografia. Fotografia de Rua são imagens em P&B da cidade de São Paulo, outro assunto fascinante, e como o próprio Tuca me disse em nossa conversa, “é aqui que está a novidade agora”.

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Berlim, como disse acima, foi o projeto pelo qual conheci o trabalho de Tuca Vieira. Tuca diz em seu site, na página dedicada a esta série, o seguinte: “A forma com que uma cidade se expressa e o significado que ela tem para cada pessoa sempre me fascinaram. Fui a Berlim tentar transformar minha impressão da cidade em imagem. E decidi fotografar à noite. Para além dos motivos de ordem prática (escurece rápido no fim de outono, e eu não sou de acordar cedo) me interessava a atmosfera da cidade, mais do que a cidade em si. A noite é mais teatral, menos descritiva, mais sensual, menos dispersiva. Interessava-me estar no limite entre a cidade reconhecível e a cidade particular. Procurei neste trabalho dialogar com a tradição formal e descritiva da fotografia alemã, com o rigor das verticais, das frontalidades e perspectivas. Queria fazer um pouco do caminho inverso, tantas vezes que fomos fotografados pelos estrangeiros, buscando um encontro entre culturas visualmente tão distintas.”

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Um trabalho recente de Tuca e que muito admiro também é “Minsk”, sobre a capital da Bielorrússia. Um fato muito interessante é o contra-ponto que une as duas séries: Berlim e Minsk. As duas séries são sobre capitais europeias, mas enquanto uma é mostrada através de fotografias noturnas, a outra não apenas é mostrada em fotografias diurnas, mas em pleno inverno, dando um aspecto inteiramente branco às imagens, devido a neve em abundância. Ainda sobre a série Minsk, recomendo a leitura do texto de apresentação da série, no site de Tuca.

No feriado de 20 de Novembro, Tuca fez a gentileza de conversar comigo por telefone para responder algumas perguntas. Falamos sobre os projetos Berlim e Minsk, sua forma de trabalhar e também sobre projetos futuros. A seguir trechos dessa conversa:

Quanto tempo você dedicou aos projetos de Berlim e Minsk? Apesar de serem duas capitais europeias, Berlim foram 3 meses e Minsk apenas 4 dias. Eu tentei adaptar cada projeto a esse tempo, então Berlim, evidentemente, é mais profundo. Eu queria conhecer Minsk, 4 dias foi a oportunidade que surgiu e eu tentei fazer o melhor nessas circunstâncias.

Minsk foi um projeto de oportunidade ou foi planejado? Foi planejado, é preciso planejar, a Bielo-Rússia ainda exige visto de entrada, e é meio chato de conseguir o visto, então você obrigatoriamente tem que planejar um pouco. Minsk eu fiz com telefone celular, por exemplo, porque era uma forma de ter mais agilidade para fotografar. Como tinha pouco tempo, eu tinha que aproveitar todo tempo possível.

Então as imagens de Minsk foram feitas com celular? Isso, com celular. Em Berlim eu usei uma câmera mais pesada, tripé.

Você nem levou câmera para Minsk? Eu levei, mas eu percebi que faria poucas fotos se saísse com câmera e tripé. Porque era muito frio, chegou a -15ºC, então eu tinha que ser rápido, não dava pra ficar montando tripé na rua. Então o celular foi uma solução.

E você ficou satisfeito com o resultado do projeto, a qualidade das fotos? Fiquei sim. Achei que era o melhor que podia ser feito naquele curto espaço de tempo.

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Interessante essa improvisação, e isso tem haver com a próxima pergunta. Em Berlim, você já sabia que queria fazer imagens noturnas, ou também foi uma decisão devido as circunstâncias? Eu já sabia, eu já tinha planejado. Eu já conhecia Berlim de outras viagens. tenho amigos lá e nas outras viagens que já havia feito a Berlim eu comecei a conceber esse projeto. então quando fui essa última vez para fotografar eu tinha uma ideia bem clara do que eu queria. Fiz pesquisas dos lugares que queria fotografar, eu fui para execução do trabalho mesmo.

Você tem outros projetos semelhantes, de ir a uma cidade e fazer fotografias? Não tenho nada concreto agora. Agora quero fotografar São Paulo novamente. Ano que vem vou me dedicar a fotografar aqui em São Paulo. Eu também tenho material de outras cidades que fotografei, mas muito fragmentado. Eu tenho vontade reunir essas fotos e criar um ensaio não de uma cidade, mas de várias. Pequenos fragmentos de cidades que eu estive recentemente.

Você vai montar em cima de uma linha comum de pensamento ou será um ensaio meio aleatório mesmo? Tem um alinha comum, o meu interesse pelo espaço urbano e arquitetura, eu acho que é uma coisa que perpassa pelo meu trabalho, então sempre vai ter esse eixo, a relação da cidade com seu próprio espaço.

Sobre esse último trabalho seu, “O Espetáculo do Crescimento”, a impressão que eu tive é que ele é um pouco diferente do seu histórico. Como foi o processo de escolha desse trabalho, ou de projetos a que você quer se dedicar? Esse trabalho, foi um trabalho encomendado. Foi um pedido da Bienal de Arquitetura de São Paulo e do Instituto Moreira Salles. Era uma pesquisa que eles já tinham feito, as cidades, a viagem, tudo, e eu apenas embarquei com o trem já andando. Mas eu fiquei muito contente porque é o tipo de assunto que eu gosto. Então nesse trabalho eu pude conciliar pela primeira vez meu trabalho autoral com meu trabalho profissional, com toda liberdade de criação. Então foi um projeto especial.

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A impressão que tenho sobre suas imagens é que elas tem uma aparência bastante realista, pouco retocadas. É essa sua intenção, de manter elas o mais fiel possível ao momento em que foram captadas? Isso é muito importante pra mim. Eu fiz minha carreira como jornalista. E o jornalismo tem esse princípio de você interferir o menos possível na imagem, embora a interferência seja inevitável. Mas o jornalismo tem que preservar alguns limites, então isso é uma influência que eu vou trazer pra vida inteira. A outra coisa é que eu simplesmente acho que o mundo tal qual a gente vê é suficientemente interessante. Eu não sinto necessidade de retirar ou acrescentar elementos além daquilo que estou vendo. Hoje em dia está um pouco fora de moda essa objetividade, essa noção do que real é o que não é, mas eu ainda me apego aquilo o que está diante dos meus olhos.

Quanto tempo você dedica a pós-produção das imagens, incluindo aí o tempo de seleção e preparação delas? Depende do trabalho. Cada um vai ter uma história diferente. “O Espetáculo do Crescimento” foram 20 dias de viagem, e nesses 20 dias não quis nem abrir o computador para me dedicar inteiramente a captura, mas como tinha uma urgência, na volta em 4 dias já tinha o material preparado. Mas há trabalhos que não, esse do COPAM por exemplo, eu fotografei em uma manhã e fiquei horas incontáveis em pós-produção. Mas em geral é meio à meio, 1hr de captura requer 1hr de pós-produção.

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Sobre esse prêmio da Funarte que você ganhou recentemente. Como foi esse processo? É um prêmio que tem todo ano, e o objetivo é de ocupação do espaço da Funarte, então é basicamente um prêmio de exposição. Eu inscrevi esse projeto do COPAM porque achei que tinha esse perfil. Eu inscrevi mais de uma vez, a primeira vez não deu certo, eu fui aprimorando o projeto, e dessa vez eu ganhei. Eu acho isso uma parte muito importante fotógrafo, saber escrever sobre o seu projeto, saber justificar e conceituar o próprio trabalho. É uma coisa que eu inda estou aprendendo a fazer, isso é muito importante.

Apesar de não tendo sido escolhido da primeira vez, você inscreveu o mesmo projeto de novo. Você achou que valia à pena inscrever uma segunda vez, mesmo tendo tantos projetos interessantes? O esforço mesmo é na primeira vez. Depois que você tem ele pronto, você vai aprimorando. Eu achei que era possível. Eu tenho projetos que vão ser engavetados pra sempre e tenho outros que percebo que ainda há campo para aprimorar. O importante é não desistir da primeira vez. Não é porque você inscreveu num concurso e não ganhou, num universo de centenas de projetos, que você vai desistir dele.

Viver de fotografia autoral no Brasil não é fácil. Você saiu do jornalismo para a fotografia autoral. Que dificuldades você encontrou ou ainda encontra? Eu ainda faço fotografia comercial, editorial, tenho algumas revistas e jornais como clientes, ainda faço reportagens. O que acontece é que essas reportagens são cada vez mais parecidas com meu trabalho autoral. Esses clientes me procuram porque querem que eu fotografe seguindo o meu estilo, eles já me conhecem. Então eu consigo equilibrar bem as duas coisas, na verdade isso está se misturando, não é que eu estou abandonando a fotografia comercial, é que ela está se misturando com meu trabalho autoral. Isso é muito interessante, mas leva muitos anos para se conseguir. Eu estive agora no Rio de Janeiro fotografando para um seminário de urbanismo do Rio de Janeiro. É um assunto deles, mas que ao mesmo tempo me interessa muito.

Qual a diferença entre fotografar no Brasil e cidades europeias, por exemplo, em relação a aspectos diversos como segurança, conservação das cidades, etc? Realmente, a parte de segurança é fundamental. é um desconforto muito grande fotografar em São Paulo, é uma cidade que cria diversidades o tempo todo, não só de acesso aos lugares como quanto a segurança. Eu tenho certeza que nunca vou conseguir fotografar São Paulo, como um japonês consegue fotografar Tóquio, por exemplo. Mas tem vários outros aspectos, o gigantismo de São Paulo, a diversidade, quando falamos de São Paulo, qual São Paulo estamos falando, é uma pergunta que sempre me faço. Mas por outro lado é aqui que está a novidade, Paris por exemplo, é uma cidade que já foi tão destrinchada pela fotografia, São Paulo ainda não.

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Que conselho você daria ao um iniciante na fotografia autoral? Eu diria que ele não pode ficar esperando que se crie as condições para ele poder fotografar. Ele tem que criar essas condições por si só. Eu acredito que ele precisa primeiro fazer o que ele acredita, e depois mostrar essas imagens. Tem que ter iniciativa própria. O mundo está aí, as coisas estão acontecendo, as câmeras estão na mão de todo mundo. Hoje em dia até a forma de publicação é democrática, você pode completar esse ciclo sozinho se quiser, fazer e mostrar. E se o trabalho for bom ele vai aparecer. Nenhum trabalho bom fica escondido muito tempo. Além disso é preciso conhecer a história da arte, estudar as ciências humanas, procurar se informar a respeito do mundo em que a gente vive. A fotografia é o instrumento que você vai usar para falar de alguma coisa, mas você precisa saber que coisa é essa. Então estudar a história da fotografia. As pessoas são muito deslumbradas, como se a fotografia tivesse sido inventada ontem, mas essa história vem de muito mais longe, então olhar pra trás é importante porque a gente deve muito as pessoas que realmente criaram a fotografia.

Atualmente, Tuca comercializa suas imagens através da Fauna Galeria e da Fotospot. Visite o site de Tuca em http://www.tucavieira.com.br/ para ver mais de suas imagens e também suas palavras sobre cada uma de suas séries.

Gostaria muito de agradecer ao Tuca pelos 30 minutos de conversa ao telefone, a paciência e a atenção dada. Muito obrigado!

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