Jorge Sato

“A strong-willed photographer struggling to reach mysterious and undiscovered places through analogue universe, not using the perfect technique as a craftsman. Rather, using the sensibility of an apprentice.”*

Rio de Janeiro - Arpoador + Pão de Açúcar

“Arpoador”

É essa descrição, em inglês mesmo, que Jorge Sato fornece no seu website a seu respeito. Eu o descreveria como “ousado”. Ousado no seu objetivo: “alcançar lugares desconhecidos e misteriosos”. Ousado na sua forma de trabalho: “analógico…sem usar a técnica perfeita”. Ousado ao abraçar o mundo todo usando o inglês. Ousado como navegadores solitários de alto mar, usando pequenos barcos a vela, com tecnologias de 500 anos ou mais, desbravando mares inóspitos e muitas vezes bravios.

Mas navegando pelo seu website, observando suas imagens, eu diria que ele navega “full sails ahead” ou para os pouco acostumados com termos náuticos e dependentes de tecnologias mais modernas, “a pleno vapor”. Sato utiliza equipamentos e técnicas conhecidas entre os amantes da fotografia Lomo, mas o resultado final tem um ar de originalidade obtido apenas por aqueles que tem talento e sabem o que estão fazendo.

NYC Guggenheim Museum<br />

“Guggenheim Museum”

Jorge mora e trabalha em São Paulo, tanto comercialmente quanto desenvolvendo seu trabalho autoral. É claro que que não está limitado a cidade paulistana, já tendo realizado “essays” ao redor do mundo, incluindo Rio de Janeiro, Nova York, Londres, Viena, Islândia, Holanda e outros. Apesar de jovem já participou de várias exposições individuais e coletivas e foi premiado em diversas ocasiões. É representado pela Tripolli Art Gallery de São Paulo.

Seu último trabalho publicado em seu website é sobre a exposição “Stanley Kubrick” realizado pelo MIS-SP. Não quero aqui comparar o trabalho do famoso cineasta, autor de obras primas como “2001 – Uma Odisseia no Espaço” e “O Iluminado” entre outros, com o trabalho de Sato. Mas não posso deixar de afirmar que na minha opinião, suas imagens tem brilho próprio, dando a elas o destaque merecido, apesar da aura naturalmente magnífica do assunto fotografado.

Jorge gentilmente concordou em responder a algumas perguntas por email. Segue abaixo a entrevista completa.

MASP

“MASP”

1. Como foi a descoberta da fotografia autoral?

Após entrar na área criativa de uma grande agência de publicidade, aprendi e desenvolvi o olhar através de layouts, fotografias e eternas buscas de referências para chegar numa boa ideia com muita transpiração, foco e perfeccionismo. Posso dizer que foi uma grande escola, mas eu sentia falta de fotografar e da liberdade criativa. Então decidi dar um tempo no mercado publicitário e procurar uma vaga de estágio com um fotógrafo autoral para tentar me encontrar, já que ainda não sabia se realmente seguiria esta profissão.

Com muita sorte e timing perfeito, consegui uma vaga no estúdio do Claudio Edinger enquanto ele estava preparando sua exposição de 30 anos de carreira. Havia muito trabalho para apenas um assistente, então foi aí que entrei, como estagiário. Era pra ser por um mês, mas acabei ficando três anos. Lá aprendi sobre o universo da fotografia fine art, da concepção à exposição. Entendi a relação da ferramenta e linguagem para conceber um ensaio. Percebi que seria um caminho árduo e sinuoso, mas era o que queria fazer para o resto de minha vida.

Paróquia Nossa Senhora do Brasil

“Nossa Senhora do Brasil”

2. Como foi a opção pela fotografia de filme? Por que Lomo?

Edinger insistiu para que eu começasse a fotografar com filme porque a relação entre o fotógrafo e a fotografia muda de certa forma, ficando mais intimista e com maior profundidade. Você desacelera e inevitavelmente você pensa muito mais antes de pressionar o obturador. Essa introspecção estimula a imaginação e o olhar. Talvez essa técnica não funcione com todos, mas vale uma tentativa.

No começo fui um pouco contra esta ideia, achando sem sentido voltar ao analógico para desenvolver uma linguagem, já que o trabalho para chegar à fotografia final seria imensamente maior, mais lento e mais caro. Talvez esteja aí o seu segredo.

As lomos entram neste contexto, como forma de suavizar a transição entre o digital e o analógico. Como elas são câmeras simples, achei menos intimidador começar por elas e depois chegar numa reflex analógica. Mas o que era para ser provisório acabou sendo o destino final. Percebi que era possível me expressar com elas de uma forma que não conseguiria com outras câmeras. Hoje em dia uso muitas câmeras 35mm e 120, profissionais e amadoras, mas foi com as lomos que encontrei minha voz.

Projeto Olhográfico - Homenagem a Oscar Niemeyer

“Projeto Olhográfico – Homenagem a Oscar Niemeyer”

3. Como você vê o mercado de fotografia autoral atualmente no Brasil e no mundo?

Lá fora a fotografia autoral caminha muito bem, basta ver as exposições e leilões pra perceber isso. Aqui no Brasil, acredito que o mercado está evoluindo a cada ano, mas ainda há muito potencial para ser explorado. Ainda sou muito novato neste mercado, ainda não tenho uma experiência sólida para poder comentar mais profundamente sobre o mercado brasileiro, mas acredito nele.

4. Como é a receptividade do seu estilo de fotografia entre os profissionais já consagrados? E entre os jovens e iniciantes?

Normalmente as pessoas gostam, porque eles percebem que é possível fazer algo diferente e inusitado com ferramentas simples. Isso acaba servindo de estímulo para quem está começando e não tem condições financeiras de comprar uma câmera high-end.

após a redução de tamanho, usar o sharpening pro e o noise ninja novamente.

“Projeto São Paulo Neo Noir”

5. Como é o seu processo de criação? Desde a captura de imagens até a edição final.

Escolhi as câmeras lo-fi como minha ferramenta de trabalho porque elas são conhecidas por serem imprevisíveis e com limitação técnica. A minha fotografia se baseia muito no acaso, então não ter controle total sobre a imagem final faz parte do processo. Imagino a cena e tento reproduzir diretamente no filme. É sempre uma surpresa. Todas as fusões são na câmera e após os negativos serem digitalizados, uso um software para acertar os tons e contraste das imagens para ficarem mais próximas do que imaginei.

6. Como você escolhe seus projetos?

Não há uma fórmula, normalmente escolho um tema que gosto e pesquiso referências relacionadas a ele para formular um conceito que valha a pena virar um ensaio. Mas o início de um ensaio pode vir por acaso também, muitas vezes se você olhar seu material antigo é possível descobrir uma repetição de tema, composição ou ideia que pode ser um “Norte” para virar um projeto.

do Edifício Martinelli

“Realidades”

7. Qual projeto seu, já concluído, você considera especial?

Com certeza é o Olhográfico que é uma homenagem às obras do mestre Oscar Niemeyer. Estou produzindo há mais de três anos e a primeira exposição aconteceu na Tripolli Galeria em 2012. O conceito deste projeto é fazer uma releitura das obras de Niemeyer com uma atmosfera misteriosa, sideral e surreal. Niemeyer buscava o infinito através das curvas e estou tentando leva-las para um novo ponto neste universo de possibilidades.

8. Quais projetos você tem em andamento?

Estou com o ensaio São Paulo Neo Noir que foi exposto no MIS no ano passado pela convocatória Nova Fotografia, que é a cidade de São Paulo no ponto de vista do gênero Neo Noir, com sua atmosfera sombria, elementos visuais característicos e conceitos.

Tranquility

“Tranquility”

9. E o que você pode falar sobre seus projetos futuros?

Fiz alguns esboços para meu futuro projeto Metropolis que é baseado no filme de Fritz Lang, mas prefiro não contar muito a respeito para não estragar a surpresa.

10. Qual projeto seria a realização de um sonho?

Gostaria muito de fazer um ensaio analógico na Antártida. Acredito que o resultado seria interessante e único. Assim como foi na Islândia, a Antártida é um novo mundo a ser explorado pela múltipla exposição e pelo acaso.

* “Um fotógrafo com grande força de vontade, lutando para alcançar lugares desconhecidos e misteriosos através do universo analógico, sem usar a técnica perfeita de um profissional. Ao invés disso, usando a a sensibilidade de um aprendiz”

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