Como Valorizar sua Produção Artística

Eu aposto que você não sabe que poderia pegar sua obra de arte pronta, que está parada no seu estúdio, e aumentar o seu valor neste instante, não é mesmo? Não, você não precisa mudar nada na sua obra. Não, não há nenhum truque. Estes são métodos 100% legítimos e testados pelo mercado de arte, que provocam respostas positivas de colecionadores experientes e bem informados (e compradores em geral), obtendo valores mais altos pelas obras de arte. E eu vou lhe dizer exatamente quais são e como usar estes métodos para valorizar seu trabalho. Pronto para aumentar seu faturamento? Excelente.

Aqui vai a ideia básica. Pegue duas obras idênticas. Uma que você não sabe nada a respeito e outra que você sabe tudo a respeito. No momento elas possuem o mesmo preço, você gosta das duas igualmente e você poderia comprar qualquer uma das duas. Qual das duas você compraria? Correto, a que você conhece bem. Por quê? Porque quanto mais você conhece sobre uma obra de arte, quanto melhor e mais profundamente você a entende; mas você a aprecia e mais significado ela tem para você em mais de um nível. Em relação ao mercado, quanto mais informação e contexto possuírem uma obra de arte, mais atrativa esta é para os compradores. Por quê? Porque é mais fácil vender (ou revender) obras que você pode descrever e explicar em mais profundidade do que obras que são mais obscuras.

Snow Field

Snow Field – Carlos Alexandre Pereira

“ Campo de pastagem de ovelhas próximo a Redhill, Surrey, Inglaterra. Foto tirada em Janeiro de 2013, durante uma viagem de dois meses pela Europa. É interessante o fato de que a imagem original colorida é muito parecida com a imagem final em P&B, devido ao dia nublado e toda a neve que compõem a paisagem. Imagem disponível no site www.photostandonline.com em séries limitadas de: Imagem única de 80x110cm e 5 imagens de 60x90cm. Ver bio do autor no final do artigo.

Em outras palavras, você adiciona valor a obra de arte apenas informando, incrementando e aprofundando a experiência que as pessoas têm ao aprecia-la. Qualquer artista, inclusive você, pode adicionar valor a qualquer obra instantaneamente e, portanto, aumentando a percepção de valor desta aos olhos de colecionadores sérios, e muito possivelmente, o preço que estariam dispostos a pagar por esta obra. Os seguintes procedimentos funcionam sempre. Portanto, pegue alguma obra de arte sua e vamos por em prática…

Antes de mais nada, assine sua obra. Ou se já está assinada e apenas pessoas que você conhece reconhecem a assinatura, assine de forma que pessoas que não o conheçam pessoalmente possam reconhecer seu nome (por mais surpreendente que possa ser, nem todo mundo te conhece). Não há nada mais importante que você possa fazer do que assinar sua obra de arte de forma legível porque, sem exceções, quase sempre a primeira pergunta feita quando as pessoas veem uma obra de arte é, “Quem é o artista?”. E dado duas obras de arte idênticas, uma assinada e outra não, a obra assinada é mais valiosa e será vendida por um valor mais alto do que a obra não assinada. Por quê? Quando um artista coloca seu nome em uma obra de arte, isso significa essencialmente que está terminada, pronta para ser exibida e “oficialmente aprovada”.

Você pode assinar sua obra atrás, na lateral, no topo, inserida na composição, não importa. Não faz diferença. Seu nome não precisa ficar em evidência ou interferir com a obra, mas precisa estar lá, e precisa ser legível. Se você tem uma assinatura ilegível e você gosta dela, tudo bem. Mas de um jeito de assinar seu nome de forma legível em algum outro lugar da obra para que você possa ser identificado. Mesmo que você já seja conhecido mundialmente, cedo ou tarde, pessoas nascerão e não o conhecerão. E se algum deles por acaso herdar ou vir a possuir uma obra de arte sua, eles não saberão o que fazer, porque eles não saberão quem você é ou quão famoso você foi, o que quer dizer que eles podem descartar sua obra, o que acontece mais frequentemente do que você pensa. Acredite.

Nomeie sua obra. Você pode imaginar um livro, um filme ou uma música sem um nome? Claro que não. Arte não pode ser diferente. Mesmo que você crie obras de arte que não possuam nomes, então nomeie-as como “sem nome”. Dado duas obras de arte idênticas, uma nomeada “sem nome” e outra sem nome, a obra nomeada “sem nome” vale mais do que obra sem nome. Por quê? Porque você sabe que a primeira é nomeada “sem nome”, enquanto que a segunda, você não faz ideia se algum dia já teve algum nome ou não. Se você não gosta ou não usa nomes, explique de alguma forma porque você não nomeia suas obras de arte. Dado duas obras de arte idênticas, uma com uma explicação do porque não possuir nome e a outra sem nenhuma explicação, a obra com explicação valerá e venderá por um valor mais alto que a obra sem explicações. Você pode até ir mais além e escrever na sua obra o nome dela; colecionadores gostam disso.

Registre a data. Alguns artistas não gostam de registrar a data de suas obras porque imaginam que os compradores querem apenas as mais recentes, ou porque eles querem dizer qualquer que seja a data que eles imaginam que o comprador gostaria de ouvir. Se for este o caso, então registre a data em segredo, em código, escondida na composição, em sua agenda ou em uma lista de inventário. Quando você for velho e famoso, aqueles registros vão vir a calhar, como por exemplo para sua retrospectiva no MOMA. Dado duas obras de arte idênticas, uma datada e outra não, qual você compraria? Compradores experientes preferem saber a idade da obra de arte do que ficar adivinhando.

Salt House

Salt House – Carlos Alexandre Pereira

* Imagem de uma casa abandonada em uma salina desativada em São Pedro d’Aldeia, região dos lagos no Rio de Janeiro. Foto tirada em julho de 2011. Uma das poucas fotos do autor que mostram a região em passou quase todas as suas férias escolares até os 18 anos de idade. Imagem disponível no site www.photostandonline.com em séries limitadas de: Imagem única de 80x110cm e 5 imagens de 60x90cm.Ver bio do autor no final do artigo.

Outro fato interessante sobre obras de arte e datas: Quanto mais famoso você fica, mais significante seu trabalho inicial se torna em relação ao seu trabalho atual; colecionadores competitivos adoram dizer coisas do tipo “A minha é mais antiga que a sua” ou “O artista fez a minha primeira e a primeira é melhor”. Se você se tornar muito famoso, seus trabalhos mais antigos irão provavelmente, começar a vender melhor e por valores mais altos que os seus mais recentes. Quando você é novo, compradores querem coisas novas; quanto mais conhecido você se torna e quanto mais você avança na sua carreira, mais eles tenderão a se interessar pelas coisas mais antigas. Você sabe o que mais isso quer dizer? Guarde uma parte do seu melhor trabalho inicial e deixe-a como se fosse uma conta de investimento para aposentadoria.

Numere. Se você for um criador de impressões, artista digital, fotógrafo, escultor, ou se você faz várias versões do mesmo tipo, determine um número de edições, nunca mude essas determinações e numere todas as peças de cada edição consecutivamente. Compradores de séries limitadas esperam exclusividade baseada no tamanho das edições, e eles equacionam o valor com o tamanho destas edições (quanto menor a edição, mais exclusiva e mais valiosa ela é). Antes de comprar, eles querem saber quantos são, qual item eles vão adquirir, e mais importante, que o investimento deles está protegido pela sua palavra de que a edição não vai ser alterada.

Explique. As pessoas querem saber coisas como o que sua obra de arte quer dizer, qual a razão dela ter sido criada, como foi criada, onde começa, onde termina e o que aconteceu entre o início e o fim. Você não precisa ser técnico e tedioso. Qualquer coisa entre uma sentença e dois parágrafos está bom. Ou escreva uma breve descrição de cada peça ou para uma série em particular, ou explique de maneira geral sua filosofia de trabalho em sua descrição, catálogo, website ou entrevista ou artigo a seu respeito. Se você não sabe explicar sua produção artística, ou alguma obra sua, escreve sobre o seu processo criativo, sobre o que você pensa enquanto desenvolve seu trabalho, como você começa, como você sabe que finalizou uma obra, e assim por diante. Qualquer coisa é melhor do que nada. Dadas duas obras de arte semelhantes, um com um texto explicativo e outra sem nada, a obra explicada é mais valiosa que a sem explicação. De forma parecida, obras de arte com textos escritos pelos autores são mais valiosas que obras de arte com textos explicativos escritos por terceiros (entretanto, em certas situações, textos escritos por especialistas ou artistas famosos podem valorizar ainda mais a obra). Um cuidado: seja cuidadoso para não ser impositivo e determinar o que a obra deveria significar para as pessoas, diga apenas o que ela significa para você, e deixe as pessoas decidirem o que significa para elas.

Posicione sua obra num contexto maior. Onde e quando você a criou? O que você estava lendo? O que estava ocorrendo na sua vida pessoal? Quem influenciou você? Música de quem você costuma ouvir? No que você estava pensando? O que te inspirou? Você estava feliz, triste, frustrado, revoltado? É do seu período laranja? Do período malva? Você tinha acabado de voltar de sua caça com rifle nas montanhas do Kentucky? Colecionadores que compram arte contemporânea querem saber sobre o autor tanto quanto sobre sua arte; eles querem entender como suas experiências de vida impactam e influenciam seu trabalho.

Documente. Já foi exibido, escrito sobre, mencionado ou ilustrado em algum lugar, incluído em algum catálogo, recebeu algum prêmio, selecionado por algum júri, escrachado por algum louco, postado em algum website de terceiros, comentado ou criticado em alguma circunstância formal? Esta informação é extremamente importante, especialmente com a passagem do tempo e, pode impactar no valor substancialmente. Por exemplo, dadas duas obras de arte iguais, uma que foi exibida e outra não, qual você gostaria de ter? Você estaria disposto a pagar um pouco a mais pela obra que foi exibida? Suponha que a exibição tenha sido importante. Você estaria disposto a pagar mais do que pouco a mais? Colecionadores experientes estariam, e pagam – o tempo todo.

Liste todos os ingredientes. Também inclua instruções de como cuidar da obra. As pessoas precisam saber do que é feito sua obra porque a medida que envelhece, pode degradar, mudar sua aparência, secar, encolher, rachar, molhar, ficar fedida, suja, empoeirada ou sofrer algum dano, e as pessoas que restauram obras de arte (conservadores de fine art) precisam saber os ingredientes com que foi produzida para tratar efetivamente, manter e preservar ao longo do tempo.

Windmills

Windmills – Carlos Alexandre Pereira

* Salina ainda ativa em Praia Seca, região dos lagos no Rio de Janeiro. Foto tirada em 2011, mostra uma salina ainda ativa localizada na Lagoa de Araruama, próxima a Saquarema, no lado oposto a cidade de São Pedro d’Aldeia. Imagem disponível no site www.photostandonline.com em séries limitadas de: Imagem única de 80x110cm e 5 imagens de 60x90cm.Ver bio do autor no final do artigo.

Algumas outras ações simples que agregam valor:

· Tire uma foto de você com sua obra.

· Faça um pequeno vídeo seu durante a produção da obra.

· Mantenha um registro dos proprietários de sua obra ao longo do tempo. Quando chegar a época de retrospectivas, você irá ficar feliz por ter feito isso.

Disponibilize para cada obra de arte sua, um pacote de informações pessoais e recomende aos compradores manter estas informações com a obra de arte. Deste modo, quando sua obra trocar de proprietário (e cedo ou tarde irá), todos os futuros proprietários irão saber exatamente o que eles adquiriram.

Lembre-se sempre: Informação sobre uma obra de arte nunca é demais, e quanto mais você fornece, mais os compradores típicos irão estar dispostos a pagar – agora e sempre.

Alan Bamberger

Consultor de arte, especialista, autor e avaliador independente especializado em pesquisa, avaliação, e todos os aspectos de negócios e mercado de obras de arte originais, materiais de manuscritos de artistas, documentos relacionados com artes, e livros de referência sobre arte. Alan vem vendendo arte desde 1979 e livros raros e eruditos de referência de arte desde 1982, e vem consultando e avaliando para artistas, galeristas, negociantes, organizações e colecionadores desde 1985.

Tradução: Carlos Alexandre Pereira

Fotógrafo, interessado por expedições fotográficas e explorações urbanas, com uma paixão por fotografia P&B que se reflete no seu portfólio quase monocromático. Fotografia Fine Art em séries limitadas no website http://www.photostandonline.com. Informações sobre workshops de fotografia e expedições fotográficas nacionais e internacionais em http://www.calexandrep.com.

Fotografia et al - CAPA 001

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